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A Corrida de Escorpião

Maggie Stiefvater

 A Corrida de Escorpião - ou The Scorpio Races pra quem gosta de ler em inglês - da Maggie Stiefvater (bem esse nominho complicado aí), foi um livro que descobri meio sem querer. Em 2015, estava montando minha lista de livros para ler nas férias (faço isso todo ano) e a capa do livro me chamou a atenção pela cor e pela imagem de uma menina montada em um cavalo. Pra quem não me conhece pessoalmente, eu e minha família temos dois cavalos – Garoto e BlackJack -, portanto, automaticamente já me interessei. O livro é de aventura e suspense, e foi o primeiro livro de suspense que li na vida – sou medrosa, admito - e agora não largo mão da categoria. A Corrida de Escorpião está na minha lista de livros preferidos, ou seja, recomendo muito!   
 O livro tem uma pegada mais "dark sem humor", contrário do que a autora é conhecida por escrever, pois a Maggie é mais afamada por dar uma pitada de humor nos seus livros que tem esse teor mais dark.  
Por ser um livro único, a história acaba te deixando com água na boca e milhões de perguntas referentes ao que acontece depois do fim do livro.  
 Falando um pouco sobre a história do livro: Kate (Puck, para os mais íntimos) e Sean são os personagens principais, e o livro é contado através da visão dos dois - algo que me agrada, pois eu sou a típica leitora que quer saber o pensamento de todos os personagens - eles vivem na ilha de Thisby, onde vive um povo pacato, e também, onde toda a história do livro se passa.  

 Todo ano, na ilha, há uma temporada de imigração dos cavalos d'água, os quais a escritora se inspirou nos capaill uisce, provenientes de lendas irlandesas e escocesas.  Os capaill uisce são cavalos carnívoros que vivem na água, ou seja, quando eles vêm para a terra, podemos dizer que eles procuram carne que seja mais sustentável que peixe. Eles têm um porte maior do que os cavalos normais, tem dentes afiados, olhos vermelhos, pele mais grossa, pêlos mais sedosos e são mais fortes também. 

 Os capaill uisce não são animais dóceis - nem perto disso - e com a narrativa da autora pelos olhos da Kate, você automaticamente, aprende a temer esses animais. Entretanto, pela visão do Sean, que mesmo temendo-os é apaixonado por eles, aprendemos a admirá-los. O que nos leva à, inicialmente, aprender a temê-los, mas ao longo do livro você também aprende a amá-los.  

 Mesmo correndo risco de morte, os habitantes de Thisby tentam capturar os capaill uisce para domesticá-los para a corrida anual que acontece todo novembro, a Corrida do Escorpião (nome do livro, todos dizem óóóóó). Ou seja, os caras tentam domesticar animais que os veem como alimento.  

 Quem ganha a corrida ganha um prêmio de uma grande quantia em dinheiro. Como o povo de Thisby é um povo consideravelmente pobre, muitos participam da corrida, arriscando suas vidas pelo prêmio, enquanto outros participam por aventura ou por pura curiosidade, porém Puck e Sean não se encaixam nesse grupo e ambos têm motivos muito bons para participarem. Mas só um pode ganhar, e constantemente você se vê dividido em quem você quer que ganhe. Eu, particularmente, passei o livro inteiro sem conseguir escolher.  

 Outro ponto legal é que apesar de a história envolver animais mitológicos que geralmente são associados ao passado, a escritora dá a entender que a história se passa nos dias de hoje, ao contrário de muitos livros que envolvem seres mitológicos. E apesar desse "quê" de magia, esse povo não é um povo isolado, ou seja, não são só os habitantes de Thisby que conhecem os capaill uisce, eles não são incumbidos de guardar segredo quanto aos cavalos e nem fazem questão disso, e é aí que o turismo entra.  

 Como a corrida tem essa "peculiaridade" de ser com cavalos carnívoros, ela se tornou um evento turístico. Pessoas do mundo inteiro querem conhecer os famosos cavalos que migram do mar, e assistir a polêmica Corrida do Escorpião. 

  Isso, por um lado, é ótimo para o povo, pois o turismo é a principal renda para os habitantes de Thisby, e por outro lado é perturbador, pois os cavalos se alimentam de pessoas. E apenas uma pequena parcela dos cavalos é capturada pelos adestradores. Ou seja, muitos cavalos carnívoros à solta. E isso, para os desavizados e despreocupados, significa morte. 

 Esse livro pra mim foi fantástico e, com certeza, valeu ter "perdido" um dia inteiro só para lê-lo. Espero que eu tenha aguçado a curiosidade de vocês.  

 Para quem tiver curiosidade, deixo aqui dois book trailers (trailer de livros) do livro - 1. É um fan made (feito por fã) e o 2. Foi a própria autora que desenhou e compôs a música (maravilhosa, não?) - e alguns fan art (arte de fã) também. 

Relacionando o livro com turismo: 

  Turismo em lugares "exóticos", que trazem renda para os habitantes locais, mas que ao mesmo tempo arriscam suas próprias vidas para capturar animais mortíferos para entreter turistas. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Ou não. 

  E isso nos leva a pensar, por que as pessoas tem esse interesse de praticar o turismo de aventura que envolva visitar lugares com risco de morte (vide países em guerra, lugares naturalmente perigosos, etc)? O argumento mais utilizado por aqueles que praticam esse tipo de turismo, é o "ver sem filtro", que é ver a cultura e a vivência dos habitantes locais sem o "filtro" de uma agência de turismo, ou até mesmo o "filtro" que atrativos turísticos mais visitados utilizam, tornando o lugar menos cru e algo quase fantasioso.      No livro Turismo da Juventude, a autora Maria José Giaretta explica que esse tipo de turismo"(...) está vinculado à busca do incerto, do imprevisto (...)".  

  Porém, além dos riscos de segurança, esse tipo de turismo causa impactos fortíssimos. Por exemplo, em locais de guerra, os habitantes normalmente têm poucas condições de vida (água, comida, encanamento, energia e conforto em geral), e para atender os turistas, essas condições básicas são necessárias. Mas se não tem para o povo local, de onde vão tirar para os turistas? Ou então, se tem pouco, os valores podem ser invertidos e dão prioridade aos turistas, e não aos habitantes, tirando do pouco que o povo já tem.  

  Já quando se trata de turismo com animais, principalmente os silvestres, a situação pode ser ainda mais alarmante. Pois os animais são tratados de forma desumana para entreter os humanos.  

  Segundo a World Animal Protection (Proteção Animal Mundial), estima-se que aproximadamente 110 milhões de pessoas em todo o mundo visitam locais que promovem turismo cruel com animais silvestres e que as atrações de vida silvestre constituam de 20 a 40% do turismo global. E esses números são extremamente alarmantes. 

  Em 2010, a World Animal Protection visitou e acessou 24 atrações diferentes utilizando métodos científicos objetivos, e lá eles identificaram que: 25% desses locais possuem impacto positivo sob os animais, e nesses locais estima-se a presença de 13 mil animais silvestres. Exemplos incluem santuários sem performances nem contato direto com os animais (ursos, orangotangos, leões). E 75% desses locais possuem impacto negativo sob os animais silvestres, e nesses locais estima-se a presença de 550 mil deles. Exemplos incluem passeios em elefantes, selfies com tigres e manuseio de tartarugas.  

  Normalmente, os animais que são utilizados para contato com humanos são arrancados de seu habitat natural e de suas famílias quando ainda são muito filhotes. São mantidos em situações deploráveis e passam por treinamentos cruéis ou são anestesiados para entrar em contato com os humanos. 

  Esses números são extremamente desequilibrados e tristes, o que me leva a um pedido: Por favor, pessoal, sejam turistas conscientes. Planejem bem as suas viagens e pesquisem sobre os atrativos que vocês pretendem visitar. Não colaborem com os maus-tratos a animais silvestres.

  Se você se interessou pelo assunto, recomendo muito você ler os livretos Seu Guia Para se Tornar um Turista Amigo dos Animais ou Check-out da Crueldade, e apoie campanhas como Silvestres. Não Entretenimento, da World Animal Protection e junte-se ao movimento global pelo fim da exploração turística de animais silvestres.  

Fontes: 

GIARETTA, Maria José. Turismo da Juventude. São Paulo: Manole, 2003.  

https://d31j74p4lpxrfp.cloudfront.net/sites/default/files/br_files/documents_br/wildcru_relatorio.pdf - acessado em 01/05/18 

http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2016/08/1801425-entre-o-risco-e-a-descoberta-o-que-leva-turistas-a-viajar-para-zonas-de-guerra.shtml - acessado em 01/05/18 

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