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A Irmandade Perdida

de Anne Fortier

  Pra você que gosta de mitologia grega, arqueologia, amazonas ou um pouco de aventura, o nosso segundo #Livros&Turismo é pra vocês. Dessa vez, trago o livro A Irmandade Perdida de Anne Fortier, renomada autora dinamarquesa. 

  O livro alterna entre duas estórias, a primeira é da professora da Universidade de Oxford (UK), que também é especialista em mitologia grega, fascinada pela história das Amazonas e filóloga¹, Diana Morgan. E a segunda é de Mirina, uma antiga guerreira que, devido a acontecimentos em sua vida, se torna uma amazona. As estórias são contadas em épocas completamente diferentes, mas se completam e no final se mesclam. 

  Diana vivia sua vida normal em Oxford até que recebe um pedido de ajuda de um estranho para que ela use suas habilidades de filóloga. Ela aceita o pedido e embarca em uma aventura pelo norte da África e lá ela precisa desvendar um idioma gravado em algumas ruínas de escavações, e estranhamente, esse idioma é o mesmo estranho idioma que sua avó - que acreditava piamente 

ser uma amazona – usava para escrever em seu diário. Essas gravações contam a história de Mirina e das amazonas, e conforme

Diana vai a desvendando, mais perigosa se torna sua aventura. Ela recebe ajuda de Nick Barrán, um homem enigmático, e por mais que eles não se deem muito bem no início, a aventura deles os faz perceber que seus destinos são entrelaçados e eles se parecem mais do que imaginam. 

  O livro mistura realidade e ficção de um jeito tão incrível que te faz quase acreditar que a versão do livro é a versão real dos mitos citados nele. E você percebe que, claramente, a autora pesquisou muito para poder construir e montar a estória do livro. Inclusive, a autora deixa uma nota no livro falando sobre isso: "Espero que os leitores tenham consciência de que estou lidando com a tradição de forma lúdica e que este livro de forma nenhuma pode substituir trabalhos embasados de não ficção sobre o tema" ... " Embora os acontecimentos e personagens do livro certamente sejam, em grande parte, fictícios, tomei muito cuidado para garantir que o contexto histórico fosse o mais sólido possível" 

  A Irmandade Perdida é um livro considerado grande, com 528 páginas, mas o seu enredo é tão envolvente que eu o devorei em apenas um dia. Espero que gostem também. 

¹ Filologia é a ciência que tem como objetivo estudar uma língua através de textos escritos. Normalmente, o filólogo estuda línguas antigas e as decifra.  

Como sempre, deixo aqui o book trailer (trailer de livro) do livro. Esse vídeo foi feito por uma fã americana e tem legendas em português: 

Link para quem preferir ir direto ao YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=pFMv_qx_RRY 

 Relacionando o livro com turismo: 

  Em um ponto do livro, alguns navegadores e saqueadores tentam invadir o terreno das amazonas e elas revidam com violência: 

"Nós somos as amazonas - repetiu ela com mais firmeza, enquanto os homens olhavam boquiabertos e incrédulos para a ave morta. - Somos as matadoras de animais e de homens. Somos selvagens e habitamos lugares igualmente selvagens. A liberdade corre em nosso sangue e a morte sussurra na ponta de nossas flechas. Nada tememos; é o medo que foge de nós. Quem tentar nos impedir sentirá nossa fúria." 

 É de conhecimento geral que quando povos entram em contato, culturas são trocadas e absorvidas. Historicamente, muitos primeiros contatos entre povos terminavam em sangue derramado e exploração, portanto o impacto era extremamente negativo. Hoje, o contexto é outro, mas, mesmo que em menor escala, os impactos negativos ainda acontecem.   

  O fator de "estou de férias, portanto não tenho responsabilidades e não estou na minha casa", é um grande problema no turismo. Muitos turistas sentem que, por estarem de férias, estão de férias de suas responsabilidades também, e que, por não estarem em casa, não necessitam ter cuidados com o local que estão, temporariamente, habitando.  

  O turismo de massa¹ é um grande ampliador desse comportamento. Dentre tantos problemas que esse tipo de comportamento causa, o pior deles é o descontentamento dos habitantes locais, que começam a ver o turismo como um vilão de suas cidades e suas vidas. Suas ruas antes limpas, agora são sujas; suas habitações antes com preços normais, agora são superfaturadas; seus locais de lazer e aconchego, agora dão lugar a lugares que produzem muito lixo e barulho, etc. O que era pra ser um fator de crescimento econômico local, gerador de empregos, se tornam empresas que não investem localmente e, ou não contratam os moradores locais, ou contratam, mas para cargos pequenos e que pagam pouco, gerando, então, uma espécie de diminuição de caráter e desvalorização profissional.   Mendonça (2001) fala sobre isso, explicando que  

"a avalanche de turistas e veranistas que surgem nas temporadas altera ou destrói as culturas locais, eliminando com elas a possibilidade de realização de qualquer atividade integrada àquele meio natural específico. Na formação dos centros turísticos, a população nativa é frequentemente afastada de seu local de moradia e atividade de origem. Isto se dá das mais diferentes formas, seja fisicamente, vendendo sua terra e deslocando-se para outro lugar, seja participando informal ou marginalmente da economia, seja menosprezando seus próprios valores culturais e submetendo-se aos novos trazidos pelos turistas." 

  Hoje, também há a linha de turistas que preferem fugir da viagem de agências e preferem viver o que os habitantes vivem, ter a "experiência real" que o local pode proporcionar. Porém, esse tipo de turismo também vem se massificando, tornando os locais de vivência dos habitantes sempre lotados e de difícil convivência. As agências aproveitam-se disso e começam a montar uma imagem de "natural" aos seus passeios montados e estereotipados, tirando tudo o que ainda havia de realmente natural nesses lugares. Esses incidentes geram raiva e mágoa da parte dos moradores, e 

"transformam-se num fator incômodo a comunidade nativa, fazendo-a sentir-se violentada na intimidade do seu cotidiano. Perde a liberdade de movimento em seu próprio meio. Este desencontro agrava-se nas altas temporadas e por ocasião de eventos especiais que provocam grandes concentrações humanas. Podem ocorrer confrontos com os usos e os costumes locais, criando-se formas de sofisticação tais nas apresentações dos bens de serviços, que particularmente irão perdendo as origens, o típico, o natural. Na maioria das vezes é justamente este sabor local o elemento de maior poder catalisador. (Sarto, 1977:30 apud Coriolano, 2001: 97)."  

  Casos muito sérios de locais em que os moradores já se magoaram tanto pelos impactos negativos do turismo que já brandam que turistas não são bem-vindos, tem sido cada vez mais registrados. Barcelona, na Espanha é um desses casos mais famosos. Greves e passeatas são feitas, cartazes com mensagens de "turistas, voltem para casa" são pendurados e os moradores fazem questão de demonstrar que os turistas não são vistos com bons olhos nesses locais.

Tradução: Turista vá para casa;

Tradução: Turista: Sua viagem luxuosa, minha miséria diária;

É por esses impactos negativos da massificação do turismo que a limitação de números de visitantes vem sendo cada vez mais estudada e lavada à sério, e o planejamento turístico tem se mostrado cada vez mais necessário. Porém, as empresas não largam mão de seus zeros à mais nas suas contas e essa briga não é nova e não tem previsão de acabar tão cedo, infelizmente. O que nos resta, então, é a conscientização e é esse o objetivo desse texto: Quando saírem de férias, não deixem os seus bons modos de férias também. Vamos manter o turismo algo puro. Seja um viajante/turista consciente. 

¹ O turismo de massa acontece nos períodos de alta temporada, onde há um número muito grande de turistas e viajantes visitando os mesmos atrativos, tornando-o massificado. É o que, normalmente, acontece nas praias.

Fontes: 

Atrativos Turísticos
Turismo
Entrevistas
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